Oferecemos ao leitor um extrato do capítulo “Tesouros do Budismo”, do livro homônimo de Frithjof Schuon.
Tanto quanto a ideia de renúncia, a de paz – de paz interior e transcendente – não é acessível à mentalidade que predomina em nossa época. A mensagem de paz se refere metafisicamente ao Ser puro, do qual somos como que a espuma; ele é a Substância, nós somos os acidentes. A imagem canônica do Buda nos mostra “O que é” e o que nós “devemos ser”, ou mesmo o que nós “somos” em nossa realidade eterna: pois o Buda visível é o que é sua essência invisível, ele está em conformidade com a natureza das coisas. Ele tem uma atividade, dado que suas mãos falam, mas essa atividade é essencialmente “ser”; ele tem uma exterioridade, dado que tem um corpo, mas ela é “interior”; ele é manifestado, dado que ele existe, mas ele é “manifestação do Vazio” (shûnyamûrti). Ele é a personificação do Impessoal ao mesmo tempo que a Personalidade transcendente ou divina dos homens; que o véu se rasgue e a alma retorne à sua budeidade eterna como a luz, diversificada por um cristal, retorna à unidade indiferenciada quando já nenhum objeto dispersa seus raios. Em cada grão de poeira, há a Existência pura, e é neste sentido que se pôde dizer que nele se encontra um buda, ou o Buda.
Frithjof Schuon, Tesouros do Budismo, Editora Stella Maris, 2024, pp. 11-12.